Prólogo de abertura do Teatro do Strindberg estreiando "O Pelicano", em Estocolmo

PRÓLOGO POR OCASIÃO DA ABERTURA DO TEATRO ÍNTIMO, EM ESTOCOLMO

Estamos no final do dia, (…)
Reunidos nesta pequena sala
Quase debaixo da terra, por assim dizer,
Protegidos da rua e de seu tumulto
Nesta câmara, propícia às confidencias
Onde poderemos, na intimidade,
Expandir o excesso dos nossos corações
A palavra íntimo vai ser a palavra de ordem do nosso grupo (…)
Mas por favor, não exijam de nós nada de novo
Ou de sensacional
Não irão ver aqui senão a velha lenda da vida
Todas as suas faces, todos os seus horrores
O bem e o mal, a grandeza e a pequenez
Intimamente, sem dúvida, mas com confiança e gravidade.
Não se pode sorrir sempre
E a vida nem sempre é muito alegre…
Começamos, esta noite, com uma tragédia
E as tragédias não são muito divertidas!
Dito isto, já podem imaginar o que virá neste espetáculo de “diferente”.
O que quero dizer é que aqui abreviamos os sofrimentos. (…)
Quando tiver começado o espetáculo, quando o pano subir,
Debaixo de cem luzes, ou mais, nós atores nos mostraremos
Enquanto vocês, na sombra ocultos,
Terão os sentimentos e os olhares protegidos.
Não julguem duramente aqueles que vão se expor
Quer às correntes de ar, quer às luzes da cena
Enquanto vocês ficarão na platéia escondidos, (…)
Nós e o nosso poeta vamos travar batalha
E vocês, tranquilamente, nos olharão
Iremos reviver no sofrimento
Um pouco a vida humana e em breves instantes!
“Piedade e temor”, tal era a exigência dos Antigos
Quanto à tragédia, piedade pelos que são postos à prova
Quando os deuses, em reunião secreta
Agitam os destinos diversos e variados
Dos filhos dos homens!
Nós, os modernos, já evoluímos
E mudamos de tom:
Humildade, resignação
No caminho que leva
Desde a ilha da vida até a ilha da morte.

August Strindberg

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